segunda-feira, 8 de outubro de 2007

Os passos clássicos das mudanças por Gustavo Boog


Por que tantas mudanças, principalmente no mundo organizacional, não dão certo? O cemitério de mudanças mal conduzidas é enorme e nele jazem idéias e projetos grandiosos ou pequenos, vindo de empresas prestigiadas ou de organizações anônimas.É clássico o conhecimento que todo processo de mudanças tem: Situação atual: onde estamos hoje? Qual o “raio X” da situação? Situação desejada: onde queremos chegar? Qual nossa visão de futuro? Ações: o que devemos fazer para chegar lá? Quais são as atividades, prioridades e recursos?Esta é a lógica das mudanças, que, assim descritas, parecem ocorrer de forma linear, tranqüila e sem imprevistos. Mas todos sabemos que na vida prática as coisas não são bem assim... O senso comum diz que as pessoas resistem às mudanças. Isto é especialmente verdadeiro quando as mudanças são impostas. Quando as pessoas participam, se envolvem e se comprometem com as mudanças, aceitam a realidade, sonham com o futuro e agem com perseverança, as mudanças progridem rapidamente. Visão ocidental, visão orientalNo ocidente, de forma geral, tendemos a ser rápidos nos processos decisórios: poucos são os envolvidos, a pressão de tempo é grande, a urgência requer decisões que não consideram os vários pontos de vista. Na hora da implantação, no entanto... surgem resistências às mudanças, mais veladas ou mais abertas, que muitas vezes terminam em sangrentas batalhas pelo poder; os decisores muitas vezes planejam mal as mudanças, levando a dificuldades de coordenação; aspectos peculiares dos envolvidos não foram adequadamente considerados, inviabilizando a implantação. O que se ganhou na decisão rápida se perde na implantação lenta.No oriente, a tendência é de processos decisórios mais lentos, que envolvem a grande maioria dos setores afetados. O planejamento das mudanças tende a ser mais completo, os diversos aspectos e peculiaridades são considerados, alternativas e idéias complementares são agregados: com isto todos se sentem pais e mães do processo, as resistências são minimizadas e a implantação é rápida. O tempo total de decisão + implantação tende a ficar mais reduzido.A grande lição a tirar desta comparação de modelos é que o envolvimento e comprometimento de todos são cruciais para o sucesso. Mudanças conduzidas “goela abaixo” não têm muita sustentação e se deterioram em pouco tempo. O que fazer para as mudanças darem certo?As carências em colocar em prática três verbos são fatais para qualquer mudança: - Não aceitar- Não sonhar- Não perseverarNo diagnóstico da situação atual muitas vezes há diferentes percepções do que seja “o nosso raio X”. Áreas de atuação como marketing, operações, gestão de pessoas, tecnologia da informação e jurídico vêem a situação de formas diferentes. O mesmo ocorre se considerarmos as percepções dos diretores, dos gerentes e dos supervisores. O tipo pessoal de atuação também influencia fortemente este processo. Portanto, integrar todas as diferentes percepções é vital ao sucesso das mudanças.A palavra-chave é aceitar a realidade como ela é, e não mesclar com aquilo que as pessoas gostariam que fosse. A crítica e o julgamento devem ser substituídos pela aceitação, que é confundida com passividade, conformismo ou paralisia. Nós só podemos curar e mudar aquilo que realmente aceitamos.Todos os empreendimentos humanos, de uma enorme corporação a uma pequena casa, um carro, uma carreira, iniciaram com um sonho. O sonhar nos conduz à polaridade inversa do aceitar a realidade. Sonhar nos conecta ao futuro, à visão daquilo que desejamos. Sonhar é uma atividade ligada ao nível espiritual, à alegria, à felicidade. Sonhar nos liberta das limitações do estado atual, gerando energia. Sonhar nos conecta a visão, missão e valores. Devemos sonhar sonhos grandes e ousados. As pessoas e as organizações que são tristes não sonham. Como todo empreendimento coletivo, a organização precisa de sonhos que unam as pessoas, e é aí que as lideranças têm um papel fundamental, ao estimular e propiciar sonhos significativos ao seu pessoal.Para nos movermos concretamente da aceitação da realidade para o futuro sonhado é preciso perseverar na ação competente. Ter um ótimo e preciso diagnóstico, bem como os sonhos bem definidos, não basta. Para mudarmos a nossa realidade e tornarmos nossos sonhos a nova realidade é preciso agir com competência e com perseverança. No caminho em direção ao sonho existem estações intermediárias, existem paradas para descanso e para nos re-abastecermos, existem momentos fáceis e alegres, mas também pedras e espinhos. E é aí que a perseverança, a tenacidade, o não desistir é fundamental. A ação orientada para o sonho torna-o uma realidade.E é assim que as mudanças acontecem.
Publicado em 03.10.2007 no site www.institutojetro.com

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